sexta-feira, abril 25, 2014


Regressando ao Parlapiê, 3 anos depois, aqui fica uma história antiga que escrevi para um passatempo:

Todas as noites, o seu pequeno coração sobressaltava no peito, apertado, ao virar a chave da caixa do correio no corredor escuro – “Nada?”
Há pouco tempo se conheciam, mas parecia que era tanto…

“És o meu respirar fundo...
O meu olhar ao acordar,
O cheiro das flores do jardim,
O voo das andorinhas que fazem ninho no quintal,
agora que o Inverno finda…”
Escrevia, emocionado. Era um romântico, um totó, diziam… Estava perdido.

Conheceram-se na fila de um supermercado – que sítio tão pouco interessante para conhecer alguém… Deixou-a passar à frente – eram só uns chocolates, iogurtes e um pacote de pipocas. Se calhar vai ver um filme em casa com o namorado. Sim, tão bonita, deve ter um namorado! Que olhos verdes vibrantes e que cabelo lindo cor de chocolate.

“Muito obrigada!” Diz ela, agradecida. “Quer ajuda com as suas compras? Parece ter aí muita coisa para levar…”
“Obrigado. Eu moro perto. Não é preciso.” Disse ele, tímido.
Passaram a encontrar-se algumas vezes por semana, no sítio do costume. Até que começaram a namorar, depois de um chá no Café da esquina.

“Vou estudar fora!” Disse-lhe semanas depois. Logo agora, que a tinha… que é com ele que come as pipocas… Pensou em segui-la, em passar as tardes com ela no Soho e em fazer pic-nics no Hyde Park com toalhas aos quadradinhos. Mas não podia – era uma loucura. Esperaria por ela o tempo que fosse…

Mas uma noite, o virar da chave foi diferente. Vislumbrava um pequeno envelope… O selo com o perfil da Rainha não mentia – era dela!!! Quase tonto de ansiedade abriu-o e tinha escrita uma única palavra repetidas vezes: “SIM, SIM, SIM, SIM, SIM……”
Na última carta tinha ganho coragem e escrevera: “Queres ser minha?”